Páginas

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Será que sou gótico(A)?

Será que sou gótico(A)?

Recentemente li uma sugestão bastante estranha, tão equivocada que pensei se tratar de uma brincadeira. A sugestão era formular um teste para a pessoa saber se era ou não gótica. Na verdade até existem alguns testes assim. No Facebook eles ficam mais no quesito “que tipo de gótico você é”, já fiz alguns e todos que fiz eram regados de muita ironia, sarcasmo e humor negro (que são algumas características do gótico). Coisa do tipo que você responde por curiosidade pra saber o resultado e não por ter alguma dúvida sobre suas escolhas.

Talvez até exista algum Quiz sobre “descubra se você é gótico de verdade”, mas o resultado deveria ser obrigatoriamente não. Se você não sabe se é gótico não é um quiz que vai te dizer e sim você mesmo. Se você dá mais valor a um teste idiota do que aos seus sentimentos e conhecimentos então deveria rever seus valores. Não existe uma filosofia gótica ou um modo de ser gótico, mas existe um conjunto de valores partilhados pela maioria. Um dos maiores pilares desses valores fica na liberdade.

Você é livre pra se intitular ou não de gótico. Porém os demais também são livres para concordarem ou discordarem disso. Existe sim um senso comum sobre o que é gótico (pessoa e não produção cultural), mas ele é meio subjetivo, pois ser gótico é apreciar/amar várias coisas que se encaixam nessa produção cultural passível de ser designada como gótica ou se a pessoa se envolve com a cena (apesar que isso não é uma obrigação), se ela procura conhecer esses elementos culturais e o tema polêmico se ela carrega os tais valores da cena.

Portanto não basta conhecer você tem que gostar, ou amar, mas como posso saber se a outra pessoa ama, gosta ou apenas conhece? Eu posso avaliar se você conhece, mas não se você ama. Eu sei a letra da Eguinha Pocoto, mas não gosto dessa música nem um pouco…

Nessas muitas vezes surge a afirmação/dúvida “Sou mais gótico que você!?

Infelizmente existem pessoas que encaram o gótico como uma qualidade e decoram nomes de bandas não por gostarem delas e sim para ‘ser mais gótico que o outro’, tem também aqueles que se sentem ‘mais góticos’ por serem mais velhos e o pior os que inventam que são mais velhos na cena ou que já ajudaram a cena de alguma forma (existe todo um status podre social dentro do gótico nacional, mas isso é assunto pra outro post).

Não existe uma competição sobre “quem é mais gótico” por mais que algumas pessoas agem como se houvesse. Você pode ter mais conhecimento ou menos conhecimento que o outro, mas tudo isso pode ser alterado e fica num plano estritamente pessoal. Da mesma forma que conceitos como religião, política, sexualidade e futebol também são bem pessoais. Enfim ser gótico ou não ser gótico é uma questão muito pessoal.

Ser gótico não é defeito nem qualidade, portanto preocupe-se em curtir aquilo que você gosta. Fora que a questão não se resume a ser ou não ser gótico. Existe o apreciador, pessoa que gosta de muita coisa, mas o gótico não compõe a maior parte de seus gostos. Existe os indefinidos, pessoas que chegam a fazer parte da cena, mas por questões pessoais não querem assumir o rótulo gótico, existe o wanabe também chamado de novato, aquele que está conhecendo e ainda não sabe se realmente se identificou com o gótico. Todas essas pessoas são bem vindas na cena!

As únicas mal vistas são os considerados paga-pau/poser/mexirica que é aquela pessoa que não conhece porra nenhuma nem pretende conhecer pois criaram ou leram alguma tese idiota do que é ser gótico e chegam ditando suas próprias regras (coisas como alma gótica, goticismo, Evanescence, etc) para poderem afirmar que são góticas. Antigamente as pessoas pegavam o bonde andando e queriam sentar na janelinha, hoje elas querem é dirigir o ônibus…

Já vi paga-paus acordarem pra vida e terem a humildade de assumir o erro, passar a escutar/ler mais do que falar/escrever e acabarem ficando na cena. Você é livre pra emitir sua opinião, mas você precisa ter alguma base pra opinar, senão vira achismo aborrecente. Mas a maioria parte para outra moda algum tempo depois.


Ah só pra ficar claro, a maioria absoluta dos góticos não apreciam apenas aquilo que pode ser classificado como gótico. Não vivemos numa bolha. Focando no principal que é a música, tem gente que curte além de gótico indie, outros metal, outros punk, outros MPB e por aí vai. Mas em tese, para a pessoa poder dizer sem errar “eu sou gótico” ela tem que conhecer e curtir uma quantidade relevante de coisas ligadas ao gótico, mas de modo algum precisa se limitar a isso.

E sobre “Será que pareço gótico?”. Isso também é tema pra outro post, mas o básico da questão parecer ou não parecer gótico se resume em: não significa muita coisa. Não existe nada que impeça nem a Sandy se vestir de ‘gótica’. Não que o visual não conte, conta e muito, mas não adianta ter um puta visual e zero de conhecimento. Mas é válido ter zero de visual e um puta conhecimento, contanto que você aceite e respeite aqueles que optaram por aderir ao visual. (mais uma vez a questão da liberdade).

Voltando a falar sobre os valores, existem os valores da cena, mas nem todos na cena partilham estes mesmos valores. Existe gente carregada de preconceitos: machismo, racismo, homofobia, bairrismo, xenofobia. Já foram cunhados termos dentro da cena como ‘perigóticas’, ‘gordóticas’, já presenciei discussões escrotas sobre a quantidade de melanina na pele, pessoas com grana falando mal de ‘gente diferenciada’ e vice versa, pessoas desacreditando a existência de gótico no Nordeste e Norte (mas o Acre não existe e fim de conversa (brinks), fora o infindável assunto de “quem transou com quem” o qual se baseando na questão de liberdade individual não deveria nem existir (com quem ou com quantas pessoas o sujeito transa não defini o caráter dele).

Muitos destes preconceitos presenciei entre pessoas importantes da cena. O que me deixa na dúvida se posso ou não ‘desclassificar’ essa pessoa do ‘status de gótico’.

Ser gótico te obriga a carregar os valores primordiais de liberdade ou apenas a ‘cena’ deve seguir esses valores?

Mesmo com a vivência que tenho no meio ainda não consegui formular uma resposta pra essa questão…
Ps fazia tempo que não usava tantas “aspas”, oh assunto ‘aspado’! :O

Nenhum comentário:

Postar um comentário